sábado, 30 de maio de 2009

- A Humildade

Quem se gabasse da sua mostraria simplesmente que ela lhe falta.
Não nos devemos gabar nem nos orgulhar de nem uma virtude, é isso que a humildade ensina. Ela torna as virtudes discretas, despercebidas.
Essa discrição é o sinal de uma lucidez sem falha.

A humildade não é depreciação de si, não é ignorância do que somos, mas ao contrário, conhecimento ou reconhecimento de tudo o que somos.
É a virtude do homem que sabe não ser Deus. É a virtude dos santos.

A humildade está vinculada ao amor, a verdade, e a ele se submete. Ser humilde é amar a verdade mais que a si mesmo. Humildade se opõe à vaidade.
Spinoza escreve: " A humildade é uma tristeza nascida do fato de o homem considerar sua importância ou sua fraqueza." É um estado de alma. Para Spinoza, ela ajuda a "viver sob a condução da razão.

O contrário da humildade é o orgulho, e todo orgulho é ignorância.
Toda virtude fica entre dois abismos. Assim é no caso da grandeza de alma (magnanimidade), quem não tem humildade, cai na vaidade (orgulho); quem tem em excesso, cai na pequenez ou baixeza. Ser pequeno é privar-se daquilo que se é digno. Pequenez, desestima ou desprezo por si mesmo.

A pequenez é fazer de si, por tristeza, menos caso do que seria justo. Mas alguém pode sentir-se triste com sua impotência sem com isso exagerá-la. A tristeza às vezes, é uma força em nós, que ela pode mobilizar a força de que dispomos, a experiência nos ensina (diante de um tristeza, ficamos abatidos, nos sentimos impotentes, sem forças).
Mais vale uma verdadeira tristeza do que uma falsa alegria.

A humildade como virtude, é essa tristeza verdadeira de sermos apenas nós. A misericórdia tempera a humildade com um pouco de doçura. Que é necessário contentar-se consigo, é o que ensina a misericórdia. Misericórdia e humildade andam juntas e se completam. Aceitar-se mas não iludir-se.
"Sou muito humilde" : auto contradição.
"Falta-me humildade." : é um primeiro passo em sua direção.

Humildade não é humilhação e nada tem a ver com ela ( a humilhação só serve para os orgulhosos ou para os perversos).
Não confundamos também, humildade e consciência pesada, humildade e remorso, humildade e vergonha. Trata-se de julgar não o que se fez, mas o que se é.

O remorso, a consciência pesada, ou a vergonha, supõem que poderíamos ter agido de outro modo, e melhor. Quando alguém comete uma falha, é porque ela não foi humilde, agiu de acordo com sua vontade, com seu primeiro impulso, sem ponderar as consequências, tanto para outras pessoas, como para si mesmo. Porém, se ela é capaz de reconhecer essa falha e se retratar, ela usa a humildade que lhe fez falta antes." Você podia ter feito melhor". " Você pode fazer melhor", é o que diz o remorso.

A humildade é um saber. Triste saber? Se quisermos. Porém mais útil ao homem do que uma alegre ignorância. Mais vale se depreciar do que se enganar.
Spinoza diz da vergonha: " Embora seja triste, na realidade, o homem que tem vergonha do que fez, é no entanto, mais perfeito do que o impudente que não tem nenhum desejo de viver honestamente".
O homem humilde é mais perfeito do que o impudente pretensioso. É o que todos sabem. Mais vale a humildade de um homem de bem do que a arrogância satisfeita do canalha.
"Conheço-me demais para me glorificar do que quer que seja", objetaria o homem humilde.

Sinceridade e humildade são irmãs: "A implacável e lúcida sinceridade sem ilusões é, para o sincero, uma lição contínua de modéstia e vice-versa. Como diz Freud: "Sua majestade, o eu, nela perde o trono." Todo conhecimento é uma ferida narcísica.
Sem a humildade, o eu ocupa todo o espaço disponível, e só o outro como objeto, ou como inimigo.

A humildade é esse esforço pelo qual o eu tenta se libertar das ilusões que tem sobre si mesmo. Grandeza dos humildes. Eles vão ao fundo de sua pequenez, de sua miséria, de seu nada.
Quem às vezes não aspira a morrer, para ser libertado de si? Fraqueza? Não, se consciente da sua impotência. Mas sabemos que a morte não é a melhor saída. E disso resulta a humildade, que somos levados a aceitar perante o difícil e para o qual não dispomos de solução, não pelo menos facilmente.

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